sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Solidão X Socialização


    Uma das ideias que mais marcou a minha vida até hoje era que a de que o lar era o lugar onde está a(s) pessoa(s) que você ama. Então, sempre tive comigo que não importa onde eu estivesse, o mais importante seria quem estaria comigo percorrendo esse caminho. Não foram poucas vezes, no entanto na minha vida que tive vontade de fugir de tudo, de fugir de mim mesma e de todos e ir para um lugar que eu não conhecesse ninguém, onde fosse uma completa estranha. Mas, junto com esse pensamento, também me vinha na cabeça as pessoas que eu deixaria para trás. E outra pensamento que surgia é que eu nunca poderia fugir de mim mesma, não importando para onde eu fosse, a única pessoa que estaria ali presente a vida toda seria eu mesma. Já as outras pessoas, algumas nós escolhemos estar perto e outras foram obra do destino/acaso, como as pessoas da nossa família. O que importa é que não conseguimos desfrutar o mundo e ser felizes sem o outro. É através da alteridade que nos compreendemos, que fazemos sentido e o mundo também. É através do outro que nos percebemos com nossas falhas e acertos, com nossos defeitos e qualidades. Só pelo contato, a convivência com o próximo é que conseguimos compartilhar as nossas experiências, sentimentos, visão de mundo, superstições e conhecimento. Até o conhecimento mesmo por si só não faz sentido, se não é compartilhado com alguém, se não é dividido e saboreado com o outro. Sem outro olhar, estamos fadados a estreiteza de visão, a enxergar o mundo em uma cor só, a viver dentro da caverna de Platão. Só, apenas como um indivíduo, acrescentamos algo a sociedade, mas esta está sempre também nos modificando, pois a corrente das massas, vai inevitavelmente carregando os indivíduos nela.
    Como indivíduos temos ideias geniais, impulsionadas pela massa pensante e disforme da sociedade. Estamos sempre criando em um movimento de simbiose que vai do indivíduo pra sociedade e vice-versa. Não creio que existam ingênuos que acreditem que possam viver sem outros indivíduos, sem outros serem humanos que lhes tragam algum tipo de completude ou que lhes possa produzir um sentimento de alegria genuíno, causado pelo simples fato que nem tudo podemos fazer sozinhos, e que sempre vamos precisar do outro. Talvez daí tenha surgido o sentimento de humildade em nós, como nos apercebemos eternamente dependentes de outros seres vivos para continuar vivendo, da caridade de quem nos detesta, como diria Cazuza. Não só quando crianças ou velhos, mas ao longo de nossas vidas frágeis, necessitamos do outro, não como uma muleta, mas como um verdadeiro indivíduo co-depende de outro. Não somos nada sem o outro e outro não é nada sem nós, e assim vivemos todos na interdependência do próximo.
    Mas onde eu quero chegar com toda essa volta, é que por mais que em diversos momentos da minha vida a solidão me acometa e eu acabe sentindo alegria por ela me visitar, eu sei que no fundo não somos indivíduos completos sem os outros e não crescemos e nos tornamos pessoas vividas e com diversas experiências de vida sem esse contato. Somos seres sociais, independente do quão solitários possamos ser ou nos sentir em alguns momentos. E esses momentos de solidão são verdadeiros tesouros para algumas vezes refletirmos quem somos e quem queremos ser, assim como também para simplesmente curtir a nossa própria presença.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 Estou lendo o livro da Mónica Ojeda, chamado Madíbula. É um livro incrível no sentido de que, mesmo eu já tendo muitas coisas que me arrepi...