Uma análise psicológica do “eu”
O que é ser normal? Essa é uma das questões que me ponho
sempre quando tento me analisar ou tento analisar as pessoas, pois quando penso
nisso não consigo chegar a visualizar ninguém que seja um sinônimo de sanidade
ou modelo de normalidade. São tantas as formas de desequilíbrio, que acho
difícil achar uma pessoa que seja completamente sã e que não tenha qualquer
desequilíbrio psicológico e creio que até os psicólogos também o têm.
Quando somos equilibrados em algo, por outro somos
completamente desequilibrados ou medianamente desequilibrados ou, ainda, não
sabemos lidar com algo. Cada ser humano tem seus traumas, suas manias,
exageros, disparates. Não há ninguém que eu conheço que seja uma perfeição de
sanidade. No entanto, mesmo assim, curiosamente, somos sempre levados a ver,
apontar e julgar os erros dos outros, eu, inclusive, incluída aí, o que é algo
tremendamente curioso.
Eu mesma faço análise há quase 2 anos e sempre tenho tanto
para descobrir e melhorar. Hoje mesmo me deparei com um vídeo que falava a
respeito das pessoas com perfil de “cuidador” e me identifiquei deveras.
Pessoas desse perfil esquecem de cuidar de si para cuidar dos outros e colocam
os desejos dos outros acima dos seus, exatamente como eu faço com a minha vida.
No vídeo fala sobre como esse fazer o tempo todo coisas para
os outros significa disfarçar o vazio que é a própria vida da pessoa, como é o
meu caso também. Essa seria uma forma de não enfrentar os próprios problemas,
pois se passa o tempo tentando ajudar os outros e estando disponível para os
outros. Mas no meu caso o que eu faço é, além de colocar os problemas e coisas
dos outros na frente de mim mesma, existe também uma compulsão por colocar tudo
em ordem, por estar sempre fazendo tarefas domésticas numa exigência constante
que todo dia se retroalimenta. Talvez ao estar ocupada o dia inteiro com coisas
que não têm absolutamente nada a ver com o meu querer e com os meus desejos, eu
possa esquecer o que está me fazendo feliz.
É sempre difícil pra mim analisar a mim mesma e entender o
que quero, o que desejo, o que amo, pois acabo transformando tudo em obrigação,
eventualmente, que chega a um ponto que não sei reconhecer o que eu quero, do
que é alguma imposição que minha mente faz a mim mesma. Estou sempre me
colocando a questão: “O que eu gosto?” ou “O que eu quero fazer?” e “Quem eu
sou?”. É difícil me entender fora do véu do que me foi sempre imposto, do que
eu exigia de mim mesma vir a ser, do que eu realmente quero ser e do que eu
realmente sou.
Sou tímida, tenho medo de ser o centro das atenções, tenho
medo de lidar com o público, tenho muitas vezes medo de falar o que eu
realmente penso e por isso muitas vezes falo o que as pessoas querem ouvir.
Tenho várias inseguranças, às vezes tenho medo de não ser muito inteligente, de
não ter muitas experiências, de parecer desinteressante, de falar algo errado
(como se existisse algo errado pra se dizer), de ficar sozinha e sem amigos, de
ser odiada pelas pessoas, das pessoas sentirem pena de mim, de não alcançar
meus sonhos e correr atrás dos sonhos de outros.
Do que eu gosto? Eu gosto de ouvir histórias, gosto de
fofocas qualquer que sejam, se não forem maldosas com pessoas vivas, mas gosto
de estudar história, gosto da descoberta, da novidade, gosto de conhecer
lugares novos, conhecer histórias desses lugares, das pessoas que vivem ou
viveram nesses lugares. Gosto de experimentar comidas novas, gosto de ir em
exposições, de ter o meu ritual de cinema e comer bobagens e assistir um filme
que estreia. Gosto do mar, do cheiro do mar, de me sentir relaxar enquanto bebo
um drink ou cerveja na praia e ouvir música enquanto estou lá e olhar as
pessoas, olhar as ondas indo e vindo num movimento incessante e sem fim.
Eu gosto dos bares, da noite, da vida noturna, de ver as
pessoas saindo para se divertir e beber e ver a variedade de pessoas na rua, os
cabelos diferentes, com cortes diferentes e cores variadas. Me encanta os
sorrisos, os abraços, de gente nova e velha, ver os afetos soltos e as risadas
de todas as formas, em bocas largas e em lábios finos, sorrisos tímidos e
sorrisos extravagantes.
Eu gosto, também, de sentar no sofá e ficar aconchegada com
o calor dos gatos no frio, abrir um livro e uma cerveja, deitar na rede nos
dias de verão e sentir o tempo morno e o tempo voando como se estivesse montado
em um pégasus correndo desenfreado.
Gosto de olhar a natureza, ver as montanhas com suas árvores
de copas cheias e o céu azul a perder de vista, o céu de brigadeiro, que dá
vontade mesmo de dar uma mordida e deixar faltando um pedaço da nuvem.
Eu gosto de ir ver arte, arte que eu não entendo e fico
curiosa pra entender, de arte que já de cara diz tudo e eu me emociono, tenho
vontade de chorar, que bate em mim daquele jeito atroz e certeiro, que o
artista nem imaginou que estava fazendo a obra pra isso, ou que o danado já
tinha certeza muito bem que estava fazendo algo pra arrebatar quem via.
Eu gosto de viajar, gosto dos aeroportos, da sensação de
pessoas indo e vindo, do burburinho, da efervescência, da sensação de passagem,
de chegadas e partidas, movimento e, principalmente, de novidade, ou da
possibilidade do novo. De rever pessoas, de ver pessoas, de conhecer lugares
novos, de imaginar novas possibilidades, de sentir medo e com um passo a beira
da morte, que te faz sentir viva de novo.
Eu gosto de apertar meus gatos, de dar carinho pra eles,
beijá-los, amassar meu rosto no rostinho deles, e adoro ouvir os ronronares que
são dados com tanto carinho e de forma tão gratuita que faz meu coração se
apertar um pouco e se sentir aconchegado. Eu não só gosto, mas eu os amo
profundamente.
Eu gosto de falar sobre sexo, principalmente agora que
descobri que posso falar de sexo sem medo com quem me sinto a vontade e que
sinto que posso falar sobre sexo sem ter que me sentir pervertida por isso.E, a
descoberta foi maravilhosa, pois pela primeira vez eu vi que poderia trocar
ideias, informações e tirar dúvidas com outras pessoas sobre coisas que sempre
tive dúvida ou não entendia, ou não conhecia. E, nessas trocas de ideias eu
vejo como há uma vastidão de coisas que não sei no mundo e como há uma vastidão
de coisas também que sei e que posso dividir e, assim, também ajudar outras
pessoas.
Eu gosto de ouvir música nova, de me surpreender com as
letras, de descobrir novos artistas, de conhecer, assim, novas realidade e eu
gosto do fato de que são infinitas as possibilidades e que sempre será possível
conhecer algo novo de que se goste.
Mais recentemente, eu descobri que gosto de ler sobre
feminismos, sobre mulheres, sobre empoderamento feminino, sobre questões
ligadas ao gênero feminino.E, esses estudos me fizeram entender várias coisas
que se passaram comigo e me ajudaram a entender, também, porque as coisas são
como são e o porquê meu irmão tinha privilégios que eu não tinha. Ao mesmo
tempo, eu consegui entender os motivos das minhas revoltas e consegui entender
que eu estava certa, que tudo aquilo pelo qual eu me sentia inconformada não
era sem motivo, mas a quem eu me dirigia, sim, era errado. O feminismo me fez
entender melhor a minha mãe, me fez ser mais compreensiva com a pessoa quem ela
era e quem ela é e me fez admirá-la, algo que eu nunca poderia imaginar que
aconteceria. Me fez aceitar as minhas limitações, e as das gerações de mulheres
anteriores a mim e d minha própria geração. O feminismo foi de certa forma
libertador, pois me fez ver para muito além do que eu já conhecia. E, uma das
coisas mais importantes é que o feminismo me ensinou sobre sororidade e sobre
reconhecer nas outras mulheres semelhanças e, em razão disso, a respeitar mais
a diferença e as diferentes vivências com menos julgamentos.
Eu gosto de organizar festas, mesmo sabendo que ficarei
super cansada em organizá-las, eu gosto de ver as pessoas interagindo e colocar
diferentes pessoas em contato, pois gosto de ver as pessoas felizes na minha
festa e aproveitando aquele momento, ao mesmo tempo em que posso juntar todas
as pessoas que eu gosto em um lugar só.
Gosto de assistir romances heteros bobos com final feliz,
mas hoje em dia fico, também, analisado com ar crítico, vendo a forma como as
personagens femininas são tratadas e de que forma as relações heteronormativas
tradicionais são tratadas no roteiro. Chego a me indignar quando o filme em
pleno século XXI repetem clichês e preconceitos sobre a mulher.
Gosto de ler poesia, apesar de ultimamente não ter lido
muita coisa, mas eu gosto de ver o que as pessoas sentem, como sentem e como
falam sobre isso. De me imaginar e comparar as emoções do autor(a) com as
minhas próprias e, dependendo, me imaginar em lugares junto com quem escreveu.
Eu sinto na poesia uma conexão de quem escreveu comigo mesma, com meus
sentimentos, sinto que sou parecida com aquela pessoa e que somos humanos.
Gosto de entrar numa livraria ou cafeteria ou, melhor ainda,
uma livraria-cafeteria, que descobri por acaso nas minhas andanças e me
deliciar explorando os livros que o lugar tem pra oferecer ou os cafés e
quitutes. Gosto de experimentar, gosto de folhear os livros novos e velhos, me
surpreender com livros que eu nem imaginava que existiam e colocar alguns na
minha lista mental de livros a ler e/ou comprar um dia e, alguma vezes, os
compro mesmo por impulso, geralmente.
Gosto do cheiro de café passando pela manhã, dos dias que se
iniciam e de toda a possibilidade que os dias me oferecem e gosto de pensar que
algo novo e totalmente aberto de possibilidade se inicia, pois é na parte da
manhã que estou mais enérgica e disposta, como se minha barra de energia
estivesse ao máximo.E, gosto, é claro, de manhãs ensolaradas, com céus
radiantes e bonitos e ouvir o canto dos pássaros e conseguir identificar de
onde vem um canto.
Eu gosto de feiras, de comida, de roupas, de cervejas, de
cafés, de doação de animais, de pulga, de antiguidades, de todos os tipos. Acho
que as feiras possuem uma aura especial, elas talvez tenham a ver com as
aglomerações de pessoas que vão a lugares para se divertir ou levar a família
ou ver novidades, gente e curtir o dia, principalmente, o fim de semana. As
feiras são mágicas e se eu pudesse eu ia em tudo que estivesse acontecendo da
minha cidade, seria figurinha marcada das feiras, ia ser a socialite das
feiras.
Eu gosto de andar, com destino ou sem destino, de explorar
por lugares e ruas que eu nunca vi e de descobrir os lugares no caminho, as
construções, suas arquiteturas, as praças, os chafarizes, as cafeterias, os
becos, os grafites, as árvores, os banquinhos, os pontos de ônibus, as
lojinhas, os bares, os jardins, os canteiros, as passarelas, as pontes, os
parques, os restaurantes, as padarias e confeitarias, as hamburguerias,
cervejarias, beer gardens, teatros, museus, pizzarias, os obeliscos, os
monumentos, os mercados, os shoppings, as mercearias, os postes de iluminação,
as placas, o sinais de trânsito, os lagos, as sorveterias, as ruas, os carros,
os táxis e tudo aquilo que o passeio puder proporcionar.
Eu gosto de fazer piqueniques, de ficar sentada no gramado
lendo, sentindo o sol bater no rosto, relaxando e/ou ouvindo uma música,
observando as pessoas passarem perto e as nuvens no céu. Eu amo preparar os
piqueniques, fazer sanduíches e garrafas térmicas e curtir o antes e o depois
do evento chamado piquenique.
Eu gosto de dançar como se a música libertasse o espírito,
como se a música entrasse no corpo e o fizesse mexer sozinho e ele tivesse vida
própria. Amo sentir o ritmo entrar dentro de mim e seguir vida própria e sentir
os membros se mexendo quase que involuntariamente, pois você se pergunta como
eles aprenderam a se mexer assim e eles não conseguem parar. E, claro, sempre
vou amar subir no queijo, espero até quando estiver bem velhinha, se eu chegar
lá.
Gosto de comer e de quando algo que preparei ficou divino,
pois eu cozinho muitas vezes porque não tenho como comprar aquilo que eu
gostaria de comer e se cozinho e dá certo, é a satisfação pura de um prazer.
Amo a comida e os temperos e toda a variedade de culinárias que existem pelo
mundo e amo experimentar e estar, sempre quando posso, comendo algo novo. Gosto
dos sabores fortes de queijos maturados por muito tempo e aqueles com odor fortíssimo,
são os melhores. Amo variados tipos de peixes e frutos do mar e, a cozinha
japonesa e a baiana, assim como a árabe, a indiana, a italiana, mas pena que
não conheço a tailandesa e a russa, para poder incluir nessa minha lista, que
já me abre o apetite.
Gosto de aprender línguas, mas gosto de aprender ouvindo as
expressões e comparando com outros idiomas e percebendo a forma como os
diferentes povos têm de expressar o que pensam. Gosto, mais ainda, quando
percebo o que entendo o que está sendo dito quase como se fosse português, de
uma forma que flui natural aos meus ouvidos, como se fosse nativa.
Gosto de filmes e sempre gostei, desde que era uma pequena
fedelha assistindo coisas como “Conveção das Bruxas” e morrendo de medo com o
filme e “Goonies”, um dos meus peferidos de todos os tempos. Amo os dramas em
que o filme me faz perceber algo sobre mim ou sobre a vida, ou me faz pensar ou
repensar algum questão ou quando o final do filme me deixa de alguma forma
pensativa e me fazendo ficar pensando no filme, mesmo depois que ele terminou.
Gosto quando o filme me faz questionar ou me faz recordar momentos e alguns
deles possuem uma grande carga emocional ligada à infância. Chaves, que não é
filmes, mas um programa de tv tem uma carga emocional bem alta para mim, pois
fez muita parte da minha infância. Lembro que era o programa que eu assistia no
SBT sempre depois do almoço.